#265 – Como escolher o lúpulo da sua receita

Como Escolher o Lúpulo da Sua Receita de Cerveja?

A escolha do lúpulo é uma das decisões mais críticas na produção de cerveja artesanal. Com uma variedade de opções no mercado, entender as propriedades químicas e sensoriais de cada tipo de lúpulo pode ser a diferença entre uma cerveja bem equilibrada e uma de perfil desajustado.

Com a parceria da Lamas Brewshop, da Hops Company, da Levteck e da Cerveja Stannis, exploramos as melhores abordagens para selecionar o lúpulo ideal para sua receita, com base na experiência e pesquisa do químico e cervejeiro Duan Ceola.

Quem é Duan Ceola?

Duan Ceola é químico de formação e mestre em química pura e aplicada, com anos de experiência no estudo dos compostos do lúpulo. Desde 2017, ele se especializa em análises laboratoriais, como cromatografia gasosa, líquida e ressonância magnética, com foco na padronização e controle de qualidade na produção cervejeira.

Além disso, é um dos organizadores da Copa Brasileira de Lúpulos, competição que visa destacar os melhores lúpulos cultivados no Brasil.

A Divisão Tradicional dos Lúpulos: Amargor, Sabor e Aroma

A classificação dos lúpulos em amargor, sabor e aroma é amplamente usada por cervejeiros. No entanto, segundo Ceola, essa divisão tem um forte viés comercial e não se sustenta tecnicamente.

Por quê?

  • Os lúpulos são compostos por ácidos alfa, que são convertidos em iso-ácidos alfa durante a fervura, gerando amargor.
  • Quanto maior o tempo de fervura, maior a conversão e a extração de amargor.
  • Qualquer lúpulo pode ser usado para diferentes propósitos, dependendo do momento da adição e do perfil químico desejado.

Portanto, a escolha do lúpulo deve ser baseada em suas características químicas e não apenas em uma categorização simplista.

O Mercado de Lúpulo: Oferta, Demanda e Impacto na Escolha

A produção de lúpulo é influenciada por três pilares principais:

  1. Área de cultivo mundial: A quantidade total de hectares dedicados à produção de lúpulo.
  2. Rendimento por hectare: A produtividade das plantações, com destaque para a Austrália e regiões dos EUA.
  3. Teor de ácidos alfa: O aumento na concentração de ácidos alfa tem permitido um uso mais eficiente do lúpulo.

Do lado da demanda, três fatores são determinantes:

  1. Volume global de produção de cerveja.
  2. Estocagem das cervejarias, que influencia a compra em maior ou menor volume conforme os preços.
  3. Dosagem de lúpulo por cerveja, que define o impacto do lúpulo na composição final.

A Evolução do Uso do Lúpulo: Lúpulos de Duplo Propósito

Com o crescimento de estilos lupulados como as IPAs, o uso de lúpulo nas receitas aumentou drasticamente. Isso levou à popularização dos lúpulos de duplo propósito, que possuem altos teores de ácido alfa e de óleos essenciais.

Exemplos populares:

  • Citra: Intenso perfil frutado e alta concentração de compostos aromáticos.
  • Mosaic: Notas tropicais e resinosas, versátil para diferentes momentos da brassagem.
  • Galaxy: Alta concentração de óleos essenciais e ácido alfa, ideal para dry hopping.

Formatos de Lúpulo: Flor, Pellet e Cryo Hops

A forma como o lúpulo é apresentado impacta diretamente sua eficiência e utilização:

  • Lúpulo em flor: Preserva compostos naturais, mas tem baixa solubilidade e absorve muito líquido.
  • Lúpulo em pellet: O mais comum, otimiza armazenamento e reduz perdas.
  • Cryo Hops (Lupulin Powder): Alta concentração de lupulina, ideal para dry hopping, mas tem custo elevado.

Compostos Sobreviventes (Survivables Compounds)

A seleção de lúpulos modernos também deve levar em conta a resistência dos compostos aromáticos ao calor e à volatilização. Os principais são:

  1. Hidrocarbonetos oxidados: Contribuem para maior retenção aromática.
  2. Ésteres derivados do lúpulo: Intensificam notas frutadas.
  3. Tíois: Responsáveis por aromas tropicais e cítricos.

Dry Hopping: Momento Certo para Extração de Aroma

A adicição de lúpulo no momento certo pode maximizar o aroma e a estabilidade sensorial:

  • Whirlpool hopping: Melhor retenção de compostos sobreviventes.
  • Dry hopping durante a fermentação ativa: Estimula biotransformação.
  • Dry hopping após atenuação: Maximiza extração de óleos essenciais sem perdas.

Conclusão: Como Escolher o Melhor Lúpulo para Sua Receita?

A seleção do lúpulo vai muito além de classificações tradicionais. O segredo está em entender:

  • Perfil químico e sensorial do lúpulo.
  • Momento ideal de adição para maximizar aroma e amargor.
  • Combinações estratégicas para criar perfis complexos e equilibrados.

Testar diferentes combinações e momentos de adição é essencial para evoluir como cervejeiro. Agora, conte para nós: qual sua combinação de lúpulos favorita? Compartilhe nos comentários!